segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A TRANSFERÊNCIA NOS PRIMEIROS ESCRITOS DE FERENCZI Cap.2, Parte I

2.1 Ferenczi : Freudiano e Criativo

Em 1909 Ferenczi escreve o artigo “Transferência e lntrojeção”¹ . Esse  é o primeiro artigo psicanalítico de peso escrito por ele e se constitui como um marco inaugural estabelecendo Ferenczi como um colaborador efetivo na construção e edificação da teoria psicanalítica. Por essa ocasião Freud já não mais se encontrava em seu isolamento intelectual e a psicanálise começava a ganhar reconhecimento e respeito tanto na Europa quanto na América do Norte. Assim, o artigo em questão ganhava sua força e entendimento a partir da necessidade que tinham os primeiros analistas junto a Freud de disseminar e elucidar a teoria psicanalítica tanto para aqueles que dela se aproximavam, exercendo-a, quanto para a, opinião intelectual de uma maneira mais generalizada.

Trata de conceitos psicanalíticos, elucida-los a diferenciar a prática analítica das demais práticas psicoterápicas parecia ser a palavra de ordem entre os primeiros autores freudianos. O artigo em questão se apresenta, à princípio, exatamente como uma espécie de elucidador do conceito de transferência, buscando sempre se constituir  numa fiel leitura ao próprio ensinamento freudiano. Veremos mais adiante que Ferenczi é essencialmente freudiano nesse momento e que muito de seu interesse é operacionalizar as ideias já trabalhadas por Freud até então. Contudo, é preciso afirmar, o artigo em questão, apesar de se constituir como uma leitura fiel a uma certa concepção do conceito de transferência em Freud, não se restringe a realizar apenas uma tarefa de catequese dos escritos freudianos. Ferenczi já aponta nesse artigo para a perspectiva de uma leitura da transferência que, sem deixar de ser freudiana, se constitui com uma peculiaridade capaz de orientar a própria prática analítica em uma direção completamente singular. Ao realizar um estudo sobre o conceito de transferência, Ferenczi faz escolhas e recortes na positivação do conceito que são por si só capazes de apontá-lo como um pensador criativo da própria teoria psicanalítica.  Assim, muito do que foi desenvolvido em sua obra , no que tange ao problema da transferência, ganhou lógica e coerência a partir do entendimento desse primeiro artigo.

     Como consequência dessa característica, a saber, a de se constituir  desde sempre como um autor psicanalítico capaz de pensar criticamente a  própria teoria que ajudava a constituir, pode-se destacar aqui o surgimento do próprio conceito  de introjeção que origina-se a partir de uma reflexão  absolutamente singular de Ferenczi acerca da constituição e dinâmica do próprio psiquismo. O conceito de introjeção é uma contribuição original de  Ferenczi à teoria psicanalítica de extrema importância, capaz de orientar todo o pensamento que se faz conduzir na constituição da obra ferencziana. Na verdade, esse conceito, de pronto aceito e utilizado por Freud, tornou-se uma referência obrigatória na obra de importantes autores psicanalíticos e ganhou novas dimensões que, com toda a certeza pode-se afirmar, o distanciaram da proposta inicial de Ferenczi. Retoma-lo aqui, indicando sua especificidade dentro do pensamento ferencziano, constitui uma de nossas tarefas.




Sándor Ferenczi e Sigmund Freud 


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