terça-feira, 15 de março de 2016

CURSO: Introdução à obra de Freud "O HOMEM DOS LOBOS"


O homem dos Lobos é um dos 5 casos clínicos escritos por Freud. Nele, acompanhamos as tentativas de Freud de reconstruir a "cena originária" de onde poderia ter surgido a primeira fixação capaz de incitar a produção de sintomas do "Homem dos Lobos". Uma suposta visão do dito "coito à tergo" (sexo por trás) praticado pelos pais estaria na origem traumática de uma representação violenta sobre a experiência sexual. Freud buscava à verdade dos fatos e tinha a convicção de que, através da análise, seria possível reconstruir grande parte dos elementos que estariam presentes e fixados na montagem dos sintomas. 
De fato, a análise deste paciente não se concluía devido ao forte grau de "resistências". Ele não era capaz de se lembrar de tudo e muito menos de recuperar toda a memória infantil recalcada.

 Este trabalho - o de reconstruir as cenas que montaram as formações do  inconsciente - Freud tentou realizar com o paciente. Isto fez, dentre outras coisas,  ele tomar uma atitude ativa de marcar um fim da análise dando ao paciente uma tarefa "forçada"de se engajar e se lembrar de "tudo". O ideal freudiano do levantamento total do véu de amnésia da infância mostrou-se impossível e sua visão sobre a clínica Psicanalítica, a partir de então, sofreu várias transformações.

 A partir deste caso, Freud passava a se mostrar um tanto quanto frustrado e pessimista quanto aos efeitos mais profundos e definitivos de uma análise. Freud encontrou, ele próprio como psicanalista, o rochedo da castração e teve que redimensionar o fazer e atuar psicanalítico. O "Homem dos Lobos "teve, depois de Freud, vários outros analistas que fizeram diferentes construções à respeito do paciente.

Pensar o recalque, a resistência, a pulsão de morte e as formações do Inconsciente é o objetivo deste curso. Tudo será pensado através do caso "O homem dos Lobos". Minha tarefa será, também, a de pensar questões sobre a psicanálise atual levando em conta este caso.

Valor: R$ 150,00
Vagas Limitadas!


CURSO: AMOR E SEXO VIRTUAL - para entender o que está acontecendo!


Pessoas se veem envolvidas com Facebook, Whatsapp, Instagram e outros aplicativos. Percebem que são chamadas a participar destes ambientes e carregam isso nos bolsos, deitam-se com os telefones, vão ao banheiro e fantasiam. Se masturbam e são masturbadas - sabendo ou não, com consentimento ou não - e gozam.

Pessoas amam falar e falando amam. Amam serem amadas e vão amando sendo faladas... sendo vistas... Amam acontecer e toda vez que algo de novo no campo do amor aparece é sempre um acelerar do coração que se sente. Quem não gosta de amar e ser amado? Isso, afinal, é sim, um vício. 

Que não se julguem os amorosos pois eles são como todos nós. Uns se permitem outros se horrorizam.

Com o sexo é a mesma coisinha. Sexo é tão intrínseco, tão múltiplo e instigante que pessoas tentam compartimentá-lo, compreendê-lo e dominá-lo. Fontes de Tesão podem ser ameaças. Ah pobres homenzinhos...

Mas junto com as mensagens, fotos, áudios, vídeos e grupos estão as inteligências de marketing marketiando os corpos e fornecendo vias de gozo bem curiosas. Ou, alguém há de mentir que o sonzinho que vem com a mensagem nova do Whats não pode ser altamente excitante? O pessoal da tecnologia sabe fazer cada fragrância de deixar qualquer um inebriado. Isso faz rir, meus caros!

Ouve-se o pensamento: "Será que é ele(a)?". "Que será que ela(e) quer?". "Mando ou não mando a foto?". "Mas por quê ela(e) disse isso? Será que quer me ter, me pegar?". E se meu namorado(a) descobrir o que fulana escreveu e e ler o que eu penso?". Alô, quem é você que não conheço e me excita? Será que estamos tendo um caso ou o quê???

Pessoas estão fazendo sexo e amando com os aplicativos e muitos nem entenderam ainda o que seja o virtual e mesmo as modalidades de gozo.
Minha tarefa será, neste curso, mexer nesta colméia de abelhas. Que tal aparecer?

Quem não gosta de mel que atire a primeira flor!!

Valor: R$ 150,00
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terça-feira, 1 de março de 2016

Provocando Fantasias: A Transferência como Causa de Introjeção Cap.3, Parte IX

Em “Fantasias Provocadas”, o ponto de partida para as discussões a respeito do que Ferenczi quer chamar a atenção, nasce de quando ele, ao se deparar com certos tipos de pacientes, percebe que esses, ao invés de se utilizarem da regra da associação livre com o intuito de fazer deslizar seus discursos,  acabavam por fazer “um mal uso da liberdade de associação” e a produzir uma fala que encontrava no próprio dispositivo de associação livre, o ancoramento de toda a resistência.
     
A atitude de Ferenczi - pois trata-se de fato de um ato -  é interromper o “blá-blá-blá”  na expectativa de fazer com que o paciente retome o fluxo associativo tirando o tratamento de uma posição de estagnação.

Mesmo reconhecendo que seu ato é uma interrupção bruta na falação do paciente, Ferenczi sustenta sua posição ao se colocar respeitando aquilo que considera uma das principais tarefas do analista: a saber, o desvelamento das resistências.  Nesse caso, a interrupção da regra fundamental é justificada porque “não se pode abrir uma exceção para o caso particular em que a resistência pretende recorrer à nossa regra fundamental de associação para se contrapor aos objetivos”.
     
Aqui, mais uma vez a técnica ativa se justifica para Ferenczi por conta de uma certa impossibilidade de desdobramento da fala do analisando através da associação livre, o que tornaria ineficaz qualquer tentativa no sentido de uma  interpretação clássica (que trabalharia num registro exclusivo da palavra).  Isso porquê a resistência  em questão, como já tivemos a oportunidade de assinalar, seria menos uma resistência do ego que “não quer se lembrar” do que uma resistência imposta pela compulsão à repetição, que , insistindo em caráter contínuo, faz com que não se inscreva para o sujeito, nenhum registro a ser lembrado.     
     
Nessa direção, Ferenczi preocupa-se com situações de análise onde o paciente apresenta uma espécie de compulsão à fantasiar.  Trata-se de casos em que o paciente tem seu fluxo de associações estagnado, se encontrando fixado na produção do que ele denominou por “fantasias patológicas”.  Aqui, tratava-se de produção infindável de devaneios que , segundo ele pôde postular, denunciavam uma situação onde a impossibilidade de dizer sobre si próprio levava o sujeito a refugiar-se fobicamente em suas fantasias.  Essas últimas estariam a serviço da resistência.
     
Para vencer a posição de resistência Ferenczi justifica sua atividade ao indicar que “nossa ação, limitava-se, no caso, a barrar certas vias associativas, e o material que o analisando produzia então apresentava-se  sem que tivéssemos despertado nele representações de expectativa.
    
O trabalho “Fantasias Provocadas” tem seu interesse maior na tessitura de um lugar para as fantasias dentro da direção da cura.  Ferenczi percebe no fantasiar, algo que diz respeito a uma posição do sujeito por relação a seu inconsciente que se mostra decisiva no que tange à sua constituição subjetiva.  Ferenczi tem a dimensão exata do que significa a capacidade de fantasiar do sujeito: ela diz respeito à própria possibilidade de constituição narcísica e, por conseguinte, define a capacidade que o sujeito tem de poder realizar suas escolhas objetais de forma  a poder dispor de uma “máquina introjetiva”  capaz de dar sentido à ordem do sexual.  Nessa perspectiva, a posição que o sujeito tem diante de sua capacidade de fantasiar determinará também o lugar que o analista virá a ocupar na economia libidinal do sujeito. Toda a elaboração do material psíquico, via transferência, em última instância, é possibilitada pela disponibilidade fantasística do sujeito.
     
Nesse sentido, ao avançar em suas considerações sobre a técnica ativa e sua relação com as fantasias, Ferenczi introduz a situação de pacientes que apresentavam uma “atividade fantasística mais particularmente pobre”.  Trata-se de um tipo de pacientes que se mostravam incapazes, ao longo de uma análise, de produzir fantasias, sejam lá quais fossem.  O máximo que faziam, era esboçar fragmentos de devaneios que não pareciam ter a menor importância ou articulação com o andamento da análise.  Ao mesmo tempo, o que estava em jogo eram situações onde não se via esboçar, por parte do paciente, nenhum tipo de afeto que indicasse angústia, ódio ou mesmo excitação erótica.
    
Ferenczi trabalha com a hipótese de que esses pacientes não conseguiram articular simbolicamente determinadas experiências que deveriam ter surtido efeitos no psiquismo.  Ainda segundo Ferenczi, têm-se a nítida impressão de que essas experiências - traumáticas, como ele dirá posteriormente - não deixaram marcas nem vestígios.  O sujeito comporta-se como se nada tivesse acontecido.  Pior, esses sujeitos são incapazes de esboçar qualquer reação, qualquer defesa.
     
Nessa perspectiva, se justifica a pobreza que rege a vida fantasística dessas pessoas: elas não têm acesso à construção de fantasias.  São impossibilitadas de articularem-se fantasisticamente porque não dispõe de recursos para tal.  Veremos mais adiante que o fantasiar, nesses casos, implicaria não em uma construção de uma via desejante, mas sim uma espécie de dessubjetivação que levaria o sujeito a estar diante de questões fundamentais que o fariam ter que responder ao impasse de sua própria identidade sexual.
     
Diante dessas situações, onde a análise vê o curso de seus trabalhos interrompido pela falta de recursos psíquicos do sujeito, onde o analista percebe uma incapacidade efetiva de fantasiar do paciente, e mesmo onde os fragmentos de fantasias não correspondem a intensidade afetiva suscitada pela experiência de análise, Ferenczi opta por agir.  Ferenczi toma a iniciativa de interromper o curso de uma associação livre e opta por impor ao paciente uma atividade.  A estagnação da situação de análise deverá dar lugar a um movimento de aumento da tensão psíquica por conta do deslocamento que a libido é obrigada a realizar a partir da intervenção ativa.
     
Ferenczi provoca as fantasias.  Ele interrompe o trabalho de associação livre para operar com uma injunção.  É como se ele dissesse: “Imagine a situação, perca sua inibição... Não é possível que você não possa esboçar nada nesse sentido... Ainda, se não conseguir imaginar, invente!”.  Pouco importa que o paciente se lembre ou não do que começa a dizer.  Menos ainda interessa se o caráter da fantasia provocada é real ou mentiroso.  Ferenczi trabalha com a ideia de uma realidade psíquica que não implica nem a perspectiva de uma realidade dos fatos e nem tampouco uma realidade puramente simbólica.  Para Ferenczi, a realidade psíquica é a atual, a que se presentifica no agora e faz com que o sujeito se reconheça a partir do novo provocado.
     
À medida que o sujeito vai podendo experimentar o fantasiar, sempre conduzido e induzido pelo ato do analista, o que se produz é a tomada de uma expressão afetiva que o leva a abandonar sua posição passiva e a experimentar situações ainda não possíveis até então.  Acompanhemos a percepção de Ferenczi acerca desse primeiro efeito ocasionado por sua intervenção: “Mas, pouco a pouco, ele vai se animando, suas sensações fantasísticas ‘fabricadas’ tornam-se mais variadas, mais vivas e mais ricas. E finalmente, deixa de poder considerá-las com olhar frio e objetivo, sua imaginação ganha ‘embalo’ e  aconteceu-me até, por diversas vezes, ver esse gênero de fantasia ‘inventada’ desembocar numa vivência de intensidade quase alucinatória, acompanhada de todos os sinais manifestos de angústia, cólera ou de excitação erótica, segundo o conteúdo da fantasia.  Não se poderia negar o valor analítico dessas ‘fantasias provocadas’, como gostaria de chamar”.
     
O que se passa é que a partir da provocação, o sujeito se experimenta numa espécie de “fora de si” que pode ser compreendido da seguinte maneira: o caráter alucinatório e o impacto violento advindo da erupção de afetos até então não experimentados, obrigam o analisando a abandonar uma posição de conforto.  Posição essa, que acompanhamos com o próprio Ferenczi, é uma posição de resistência que tem sua incidência graças à compulsão à repetição que insiste em fazer com que o sujeito não articule certas posições subjetivas.  A inexistência das fantasias é a própria compulsão em sua dimensão silenciosa que é capaz de insistir em seu movimento não permitindo que o sujeito introjete determinadas fantasias.

Para que se possa tornar mais clara a eficácia da ação de Ferenczi na provocação de certas fantasias e ainda para que se possa acompanhar a função da transferência nessa experiência, teremos a intenção de mostrar como se articulam o ato analítico (aqui, no caso, a provocação de fantasias), a função da transferência e o papel da construção empreendida pelo analista.  Assim, prossigamos.
  
Ferenczi estabelece três tipos de fantasias nas quais ele reconhece maior incidência em termos de provocação em sua clínica.  Seriam elas: 1) fantasias de transferência negativa e positiva; 2) fantasias relativas a lembranças infantis; 3) fantasias masturbatórias.  Nos interessará, aqui, trabalhar mais especificamente a provocação de fantasias de transferência negativa e positiva , uma vez que a própria transferência é objeto de nosso estudo.
     
Tomemos uma situação clínica: a análise de um homem que se mostrava muito inibido no que diz respeito à sua vida afetiva e que trazia uma “bagagem” psíquica constituída de várias idealizações.  Tratava-se de um adulto, tranquilo, bem comportado e que apresentava junto ao próprio Ferenczi uma atitude amistosa.
     
Como a análise parecia não sair do ponto em que estava Ferenczi resolve lançar mão de uma intervenção ativa das que mais criaram polêmica entre os psicanalistas: fixar um prazo para o término do tratamento.
     
Certamente que uma das expectativas de Ferenczi era a de que o sujeito se impusesse com toda força e indignação contra ele.  Afinal de contas, o tratamento parecia estar longe de atingir seu fim e tal atitude poderia ser vivida pelo paciente como uma desconsideração por parte do analista ou mesmo ser tomada como a expressão de insuportabilidade por parte de Ferenczi.
     
Ao invés de reagir dessa maneira, surpreendentemente o analisando manteve-se em sua inanidade e as sessões passaram a ter cada vez mais um caráter entediante.  Para Ferenczi, a não reação do paciente indicava uma espécie de repetição, em análise, de uma posição passiva e submissa do paciente.
     
Ele insiste na intervenção provocativa e resolve interpretar de forma a realçar a situação afetiva: “observei-lhe que ele certamente me odiava pelo que se passará e que seria pouco natural não sentir nada desse gênero.”
     
O que se passa é que o analisando insiste em negar tais sensações.  Ferenczi, por sua vez, chega ao extremo de sua atividade ao induzir o paciente que se posicione de forma a imaginar agressivamente por relação a Ferenczi.  Desde então, Ferenczi percebe uma transformação: a atitude passiva e amistosa do paciente para com o analista, deu cada vez mais lugar a fantasias de agressão que ganharam  mais intensidade e se configuraram de tal forma que o analisando desejava agredir Ferenczi.  O desdobramento final desta situação foi a criação de uma fantasia onde o analista era tomado eroticamente como mulher e desejado pelo paciente, que por conta da situação, passava a ter ereções.
     
Segundo Ferenczi, a partir de então, a análise pôde ser continuada e a associação livre pôde ser retomada de pontos distintos onde passou-se a se realizar uma série de ligações psíquicas até então inexistentes.  A partir disso, a conclusão de Ferenczi é a seguinte: “sua análise prosseguiu sob o signo dessas fantasias provocadas que lhe permitiram viver em relação à pessoa do analista quase todas as situações do ‘complexo de Édipo completo; e o analista esteve em condições de reconstruir, a partir dessas fantasias, toda a gênese da libido infantil do paciente.”
     
Nesse momento em que chegamos, cabe tentar articular algumas questões.  Com que concepção acerca da transferência estaria  trabalhando  Ferenczi para chegar a vislumbrar a eficácia de uma atividade como a de provocar fantasias?  Haveria alguma dependência entre o ato da provocação e a transferência?   Em que medida, ao insistir em suas injunções, Ferenczi não estaria abusando de sua capacidade de sugestionar e com isso obtendo efeitos de uma pressão operacionalizada em última instância pelo exercício exagerado do poder?Tentaremos articular junto ao próprio Ferenczi, respostas que nos levem a aproximar a atividade com uma posição de Ferenczi sobre a transferência.
     
Ao realizar o ato, ao promover injunções do tipo provocar fantasias, Ferenczi vale-se de um lugar.  Um lugar de analista, que é investido de um saber (saber curar, saber fazer) e que deve ser responsável pelos caminhos a serem trilhados na análise rumo à cura.  Portanto, como já tivemos a oportunidade de refletir,  o analista faz o ato garantido pela transferência.  Transferência aqui, sendo algo que diz respeito a toda essa possibilidade que um sujeito tem de se fazer representar para o outro como alguém que sabe fazer e que é capaz de merecer confiança.  Aqui pensamos no que se diz quando alguém está “transferido para com um outro”. Estar transferido, ou seja, estar deslocado para um certo tipo de relação onde esse outro assume importantes representações de investimentos que em última instância poderíamos chamar de amor.
     
Mas essa transferência, no nível de um “estar transferido”, seria meramente esse o efeito capaz de validar a atividade do analista?  Não, certamente que não.  Essa dimensão, ela está presente, mas o analista não pode se ver operacionalizando uma transferência apenas no nível de uma sugestão ou de uma influência de amor.  A transferência em questão, está articulada sob uma outra perspectiva.  Essa perspectiva diz respeito ao lugar que o analista espera ocupar na economia do sujeito em análise.
     
Ao provocar fantasias de cunho negativo, fantasias onde, como vimos, o analisando é levado a falar de um lugar de ódio para com seu analista, onde ele é encorajado a experimentar sensações de ira, Ferenczi espera levar o analisando a poder fazer dele , uma representação de objeto a ser introjetada.  É como se o analista roubasse a cena, se impusesse como representação capaz de levar o sujeito a introjetá-lo.  Para tal, o analista se coloca  como representação em primeiro plano nos interesses da análise e faz com que o analisando crie condições de produzir sentido em situações onde a estagnação denunciava um esvaziamento de subjetividade.
    
A transferência funciona como causa de introjeção.  Isso explica  o porquê da técnica ativa ser uma técnica afetiva: o interesse em provocar afetos até então impossíveis (vide toda a provocação da transferência negativa trabalhada no caso acima) está por conta do próprio conceito de introjeção, que, como já dissemos,  prevê aos afetos o papel de induzirem as representações e de organizá-las segundo sua própria lógica.  Daí a posição de Ferenczi em afirmar que a análise só vai ter seus objetivos atingidos quando o material psíquico elucidado for capaz de ser vivenciado afetivamente.
      
Vejamos, quanto a isso , a posição de Ferenczi, escrita posteriormente, em 1924: Ferenczi vêm expondo acerca da importância do atual na direção da cura .  Segundo ele, só o que pode ser atual  é o que seria capaz de efetivamente ser experimentado.  Assim, ele afirma que “pensamos, de resto, que para tornarem-se eficientes, os afetos devem, em primeiro lugar, ser reavivados, ou seja, atualizados. Com efeito, tudo o que não nos afeta diretamente no presente, portanto, realmente permanecerá sem efeito psíquico”.
     
Eis o porquê de Ferenczi insistir em provocar a transferência negativa.  Pois ele a supõe lá em algum lugar onde o sujeito não tem acesso.  A própria injunção ativa deve ser um ato capaz de detonar ódio.  Se assim é e se mesmo assim nada vem à tona, é preciso que a situação analítica possa atualizar o afeto negativo e a partir de então permitir com que o analisando, ao introjetá-lo, passe a dispor de ligações psíquicas que o levarão adiante em sua análise.
     
Ainda nesse texto, Ferenczi reafirma a importância de se “atravessar” em análise a transferência negativa.  Sua insistência é em mostrar que as fantasias de transferência negativas não devem ser exclusivamente tomadas sob a perspectiva de resistência.  Ao concluir que sempre a transferência negativa se apresentará como resistência, Ferenczi inverte a questão da resistência, ao dizer que  “...sua análise é a tarefa principal da ação terapêutica.
    
Voltando ao caso clínico de Ferenczi, aqui trabalhado, podemos perceber que é somente depois que o analisando pode introjetar a representação do analista, através da atualização do ódio em análise, é que foi possível ao analista iniciar um trabalho de reconstrução.  Sem entrarmos no mérito de uma crítica ao que Ferenczi elege como material a ser elucidado - “todas as situações do complexo de Édipo completo”, o que fica como importante a ser frisado é que depois do atravessamento da transferência negativa, onde a transferência chama para si o atual do conflito, é que Ferenczi pôde perceber condições para um trabalho de construção a ser realizado. 
     
O mesmo acontece num outro exemplo a ser extraído do próprio ”Fantasias Provocadas”.  Trata-se de um caso de uma moça que sofria de “sensação de tensão” no nível de seus órgãos genitais.  Essa queixa eminentemente alocada em um nível corporal fazia com que ela tivesse dificuldades até mesmo em trabalhar, na medida em que era obrigada a permanecer horas em repouso até que a situação se normalizasse. O que chama a atenção de Ferenczi nessa situação é que essa moça não dispunha de palavras para desenvolver associações a respeito de seu sintoma.  Mais que isso, ela, ao ser indagada,  mostrava-se incapaz de dizer de qualquer fantasia que pudesse estar sustentando tal situação.  Ferenczi calcula então que o que poderia estar em jogo era a existência de um complexo fantasístico que, inconscientemente estaria viabilizando aquela posição sexual. 
     
Ele comunica à paciente da probabilidade da fantasia de cunho agressivo onde ela se imaginaria tendo relações sexuais com seu pai ou mesmo com o analista.  Mais que isso, Ferenczi sugere que ao enfrentar novamente a situação de tensão, a paciente passe a levar em consideração a construção que ele propõe e que fantasie nessa direção.  Ou seja, o que se passa é que através de seu ato, Ferenczi provoca um fantasiar onde se espera ser reconhecido como objeto de investimento sexual na vida da paciente.
     
Ferenczi, através da transferência, não só constrói uma fantasia como sugere que a paciente a tome de empréstimo.  Seu intuito, mais uma vez, é fazer com que o quadro estagnado dê lugar a um desenrolar onde o sujeito se apodere das palavras que lhe dizem respeito e que com isso o fluxo da associação livre possa ser retomado.
     
O processo é bem sucedido na medida em que a própria paciente se torna capaz de ela mesma fabricar suas fantasias.  O primeiro desdobramento a partir da intervenção de Ferenczi foi o surgimento do desejo da analisanda de ter o analista realizando suas fantasias.  Ao recusar a cópula, e ao propor novas interpretações, Ferenczi vê surgir novas fantasias onde a paciente se vê dotada de um pênis e deseja o analista na condição de mulher, bem como outras fantasias onde aparecem como objeto de desejo outras pessoas importantes na história da paciente.  O importante a se destacar dessa experiência é que mais uma vez a atividade por parte do analista foi capaz de levar o paciente a um trabalho de construção de sentido.
     
O ato analítico, se ele é nesse momento para Ferenczi essencial para que se possa conduzir um determinado tipo de análise, ele só é possível porque se vê garantido pela transferência.  Já vimos o quanto para Ferenczi é decisivo o caráter de atualidade da experiência para que ela se torne fértil no curso de uma análise.  Assim, a transferência é o campo vivo do atual, onde a repetição ganha sentido não através de uma interpretação, mas principalmente através de um “mise-en-acte” da realidade psíquica do sujeito.
     
Por isso, Ferenczi muitas vezes  chama para a figura do analista a responsabilidade de causa de interesse libidinal.  Aqui, não estamos longe da ideia inicial de Ferenczi sobre a transferência, a saber, a de que o analista funciona como uma espécie de polo catalisador dos investimentos afetivos do sujeito.

Por, Carlos Mario Alvarez, Psicanalista.