segunda-feira, 4 de julho de 2016

CHAPEUZINHO VERMELHO SABIA O QUE QUERIA?

Chapeuzinho vermelho teve seu caminho desvirtuado pela retórica do Lobo cujo desejo foi afirmado com muito mais veemência e sagacidade do que a garotinha poderia perceber. Ainda que a menina tenha se deixado fascinar pelo Lobo, passando hipnoticamente a obedecer às suas ordens, ainda que ela tenha entrado em um certo êxtase no papo com o Lobo Dito Mau, o fato é que ela deixou sua posição para traz e passou a ignorar o que lhe acontecia. Ela perdeu o controle da situação.
Por uma certa paixão, Chapeuzinho Vermelho deixou seu destino nas mãos do Lobo. Ela abriu mão de sua rota e fez um tipo de vínculo com a voz sedutora do Lobo deixando que isto a guiasse.

Ao longo dos anos, através de vários estudos, já se ponderou demais sobre os desejos de Chapeuzinho, do Lobo, da mãe da menina, do caçador e até mesmo da vovozinha nesta historinha. Inclusive, alguns sustentam veementemente a ideia de que Chapeuzinho Vermelho desejava mesmo era transgredir o caminho imposto pela mãe. Se esta interpretação procede, Chapeuzinho não queria tanto levar os doces para a vovó mas, curtir a vida em suas radicais possibilidades.

Afinal de contas, a menina poderia ter sido acometida pela seguinte fantasia: “como seria bom me livrar das obrigações, dar uma volta pelo lado proibido com este senhor que parece tão convincente... quem sabe comer todas essas delícias de guloseimas no caminho e guardar um restinho para a vovozinha...”.

Seja lá como for, Chapeuzinho perdeu-se, deixou-se desviar porquê não estava tão certa de que deveria obedecer à sua mãe. Ela não deve ser criticada por isso. Os filhos recebem de seus pais instruções geralmente em forma de ordens severas para ocuparem determinadas posições mas, cedo ou tarde, batalharão para afirmar novas versões de desejos e vontades. Muitos farão de tudo para libertarem-se dos limites impostos por pai e mãe. É assim com a maioria. Cedo ou tarde. De qualquer forma, vale dizer que não é óbvio que as pessoas sejam donas dos seus desejos e sim que estes são mixs de desejos de outros de forma que é muito comum não se saber nem o que se quer e tampouco, para onde se vai. 



Por, Carlos Mario Alvarez, Psicanalista.