A atividade, tal qual Ferenczi a
empreende, implica em duas modalidades de intervenções realizadas pelo
analista. De um lado , o analista
realiza proibições tais como o que foi feito com a paciente que foi proibida de cruzar suas pernas e por outro lado, quase que de maneira oposta,
o paciente é levado a realizar atitudes através de injunções solicitadas pelo
analista. Nesta última situação, o caso
dos fóbicos e a expectativa de que enfrentem seus medos nos servem de exemplo.
Às vezes o analista pode combinar
proibições e injunções de acordo com o andamento do tratamento. É o caso da música croata, paciente que
Ferenczi apresenta como sendo portadora de inúmeras inibições e queixas acerca de sua concepção estética de
si própria. A paciente se encontrava em
situação de estagnação psíquica e o andamento de seu tratamento não era
diferente. Tratava-se de alguém que se
via impedida de realizar sua própria profissão, de se expor publicamente e de
realizar tarefas básicas para uma convivência socialmente satisfatória.
Ferenczi, ao empreender o tratamento
analítico clássico, por muito tempo não obteve nada senão a insistência das
inibições e dos sintomas. Ocorre que em uma sessão específica, acontece de ser
uma determinada música objeto de associação por parte da paciente. Ao invés de intervir no nível da
interpretação, Ferenczi decide em ato incentivar que a paciente cantasse tal
canção. Ao realizar a injunção, a
paciente passa a incluir como material analítico, uma gama de afetos relativos
ao cantar específico daquela música e o tratamento passa a ganhar uma nova
dinâmica. Ao cantar , a paciente
enfrentou uma inibição e liberou de uma
forma considerável afetos que foram capazes de remetê-la a situações próprias à
relação que mantinha com uma irmã. A
análise passou a ser palco de cantorias, expressões e manifestações de
determinados gestos que passaram a
imprimir um caráter totalmente inusitado à economia do tratamento. Após esse desenlace, Ferenczi pôde perceber
campo favorável ao desfiladeiro de uma série de impressões e recordações que
foram decisivas para a continuidade da análise: “Foi surpreendente verificar a que ponto esse pequeno episódio favoreceu
o prosseguimento do trabalho de análise; acudiram-lhe lembranças que até aí
nunca tinham sido evocadas e que se referiam aos primeiros tempos de sua
infância à época em que nascera um irmaõzinho que tivera sobre o seu
desenvolvimento psíquico um efeito verdadeiramente funesto e fizera dela uma
criança tímida e ansiosa, ao mesmo tempo que temerária demais” (114)
As sessões ganharam um colorido no
mínimo inusitado e original. Podemos
imaginar o que não devem ter sido sessões preenchidas com cantos, acordes ao
piano entremeados por irrompantes de lembranças que com certeza traziam em si
fortes cargas afetivas capazes de dar ao tratamento um andamento todo especial.
Podemos
ainda imaginar um Ferenczi criativo e envolvido em meio aos recitais, tal como
um maestro que deve reger uma orquestra sinfônica tendo sempre a preocupação em
manter uma estética no processo de execução.
Não pensamos ser um exagero admitir que a análise, em situações como
essa iam muito além de uma troca de palavras(ouvir-dizer) para constituir-se
numa espécie de espetáculo animado, em última instância, pela incidência dos
atos. Atos do analista, atos da
paciente, no íntimo, o que se vê relatado nessa experiência é a própria força
imprimida pela situação de transferência.
Para Ferenczi, aqui a transferência é o palco de um espetáculo, um
possibilitador de expressões afetivas capaz de, em última instância,
transformar a experiência em algo que seja capaz de produzir transformações
psíquicas através de importantes elucidações advindas do “agora” analítico.
Ferenczi incita a sua paciente a procurar o desejo. Ele, ao intervir ativamente, acredita que esse desejo deve fazer articular-se quando a paciente for capaz de abandonar sua posição inibitória devido à incidência de atos sintomáticos. Primeiro, o analista deve ter sido capaz de exortar, de encorajar, sugerir o sujeito a ir além de seu próprio gozo masturbatório. Depois, quando o desejo tiver sido reintegrado ao campo de associação, é hora da proibição, da interdição dessas moções pulsionais agora liberadas para que elas de pronto se realojem de maneira a elucidar a história enterrada. Assim, explica Ferenczi: “Nossa atividade pode, neste caso, decompor-se em duas fases: Na primeira, fui levado a dar à paciente, que tinha fobia de certos atos, a ordem de executar esses atos, apesar de seu caráter desagradável. Quando as tendências até aí reprimidas se converteram em fontes de prazer, a paciente foi incitada, numa segunda fase, a defender-se: certas ações lhe foram interditas. As injunções tiveram por consequência torná-la plenamente consciente de certos impulsos, até então recalcados ou que se exprimiam sob uma forma rudimentar irreconhecível, acabando por conscientizar-se deles como representações que lhe eram agradáveis enquanto moções de desejos. Em seguida, quando lhe foi recusada a satisfação proporcionada pela ação agora impregnada de voluptuosidade, as moções psíquicas despertadas encontraram o caminho do material psíquico recalcado desde longa data e das lembranças infantis; sem o que o analista teve que interpretá-las como a repetição de algo infantil e reconstruir os detalhes e as circunstâncias dos eventos infantis com a ajuda do material analítico fornecido por outros meios (sonhos, associações, etc.) “.
Ferenczi incita a sua paciente a procurar o desejo. Ele, ao intervir ativamente, acredita que esse desejo deve fazer articular-se quando a paciente for capaz de abandonar sua posição inibitória devido à incidência de atos sintomáticos. Primeiro, o analista deve ter sido capaz de exortar, de encorajar, sugerir o sujeito a ir além de seu próprio gozo masturbatório. Depois, quando o desejo tiver sido reintegrado ao campo de associação, é hora da proibição, da interdição dessas moções pulsionais agora liberadas para que elas de pronto se realojem de maneira a elucidar a história enterrada. Assim, explica Ferenczi: “Nossa atividade pode, neste caso, decompor-se em duas fases: Na primeira, fui levado a dar à paciente, que tinha fobia de certos atos, a ordem de executar esses atos, apesar de seu caráter desagradável. Quando as tendências até aí reprimidas se converteram em fontes de prazer, a paciente foi incitada, numa segunda fase, a defender-se: certas ações lhe foram interditas. As injunções tiveram por consequência torná-la plenamente consciente de certos impulsos, até então recalcados ou que se exprimiam sob uma forma rudimentar irreconhecível, acabando por conscientizar-se deles como representações que lhe eram agradáveis enquanto moções de desejos. Em seguida, quando lhe foi recusada a satisfação proporcionada pela ação agora impregnada de voluptuosidade, as moções psíquicas despertadas encontraram o caminho do material psíquico recalcado desde longa data e das lembranças infantis; sem o que o analista teve que interpretá-las como a repetição de algo infantil e reconstruir os detalhes e as circunstâncias dos eventos infantis com a ajuda do material analítico fornecido por outros meios (sonhos, associações, etc.) “.
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